Facilitando a Vida
Conta uma velha história, que um dia um homem resolveu ajudar uma borboleta a sair do casulo. Vendo a pobre borboleta se esforçado muito, cheio de compaixão, pegou uma lâmina e fez um corte no casulo (uma espécie de cesariana), e então a borboleta de lá saiu de asas enrugadas e corpo frágil.
O homem rendeu graças a Deus por estar ali naquele momento, e resolveu regozijar-se com o milagre do bater de asas da borboleta. E ficou por horas admirando e esperando o milagre.
Após muitas horas, o homem desistiu e foi embora. A borboleta não voou.
Sabem por que? É exatamente o esforço dessa borboleta para sair do apertado casulo que permite a irrigação de suas asas, e o fortalecimento dos minusculos músculos quer permitirão o tão lindo vôo.
Quando o homem “facilitou” sua vida, na verdade, determinou seu triste futuro. Os exercícios, os esforços necessários à maturação simplesmente não aconteceram.
Esse conto me faz muito pensar sobre o que fazemos rotineiramente em nossas vidas, em relação à vida dos outros. Quantas vezes, cheios de boas intenções, acabamos sentenciando uma pessoa a ser fraca, mal desenvolvida, sem maturidade? Quantas vezes já usamos nossas lâminas para facilitar a saída do casulo dessas muitas pessoas? E quantas vezes pudemos viver para ver o resultado de tanta ignorância revestida de sentimentos de amor, caridade e fraternidade?
Jesus, o Cristo, há 2.000 anos já nos havia advertido sobre isso: não dê o peixe, ensine a pescar. Já sinalizava sobre a falta de méritos em receber o peixe das mãos do outro, e do mérito prazeroso de poder ter conseguido o peixe por conta própria, segundo seus próprios esforços. Infelizmente esse ensinamento ainda não foi incorporado adequadamente à cultura, e temos um contingente de pessoas esperando de boca aberta alguém lhe trazer o que comer, de preferência já mastigado. E tantos outros, infelizmente, consideram o próprio trabalho como uma fonta de desprazer e desconforto, desejando, preferencialmente, receber sem trabalhar.
Em outra passagem, o mesmo Jesus deixou uma lei: Amar ao próximo como a si mesmo. Quem de nõs não quer aprender a sair da casulo, ser independente, vibrar com as próprias conquistas, amar, ser amado, ser consciente de seus potenciais, de sua própria beleza? E como isso é possível com os outros fazendo as coisas por nós? Será falta de compaixão deixar que os outros possam buscar sua própria valorização? Isso é abandono? Abandonar é não ensinar! Isso deveria ser bem estudado por homens e mulheres antes de pensarem em “produzir” um filho. Ahh, e deveria ser bem estudado também pelos professores e educadores, antes mesmos de se atreverem a fazer cumprir seus papeis de docentes.
E nossas crianças? Quantas vezes, movidos pela pena, pelo sentimento mais puro de maternidade e paternidade, lhes poupamos dos esforços pessoais para a saída do casulo, e depois, infelizmente vivemos para ver no que se tornaram?
Devido a muitas ações contingenciais, infelizmente (será?) não foi possível dar aos meus filhos tudo o que acho que eles mereciam. Por isso, precisei ensiná-los a sair do casulo. Há não muito tempo, me senti muito feliz quando, num papo, dizia a meu filho sobre meus sentimentos em não ter dado mais e melhor, fui supreendido com a seguinte fala (ou algo muito parecido): “não tem do que se arrepender, pois você me deu tudo o que eu precisava para poder conseguir tudo o que desejo”.
Roberte Metring
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Sucesso e paz.
Varekai (onde quer que seja)
Roberte Metring – CRP 03/12745
Não me peça explicações, não as tenho. Eu simplesmente aconteço.
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